CRENÇA E ESPIRITUALIDADE

 

Capítulo retirado e traduzido do Livro “DISCÍPULOS Y MAESTROS”,

de OM CHERENZI LIND

 

 

            Tanto o vocábulo crença como o de espiritualidade costumam ser confundidos em suas acepções e usados demasiado arbitrariamente, especialmente nas aplicações da vida diária. Isso não chama a atenção demasiadamente, porquanto o mesmo ocorre nas mais elaboradas discussões filosóficas e nos enunciados graves e impregnados de sutileza mística de todas as religiões.

            A crença não é uma convicção nascida da experiência e da análise ampla da realidade. Ordinariamente, as pessoas não se apercebem, por acharem-se absorvidas nas normas consagradas, de que a crença resulta simplista, arbitrária, desoladora em suas fases e conseqüências, uma fé absurda, porque significa a aceitação submissa de enunciados categóricos, quase sempre desavindos com a lógica natural, ou simplesmente fantásticos.

            Isto vem explicar o fato de que as crenças são, em sua maioria, confusas e irreais, justificando-se assim, amplamente, o asserto de Goethe quando assevera que “se crê porque não se compreende, e não se creria se se estivesse no certo”. O pouco durável das múltiplas crenças de carácter místico, religioso, fraternal ou espiritualista, é a conseqüência inevitável da falta de profunda compreensão do por quê das coisas, ou da carência de uma realização ampla dos motivos e fundamentos ulteriores do que se agita no domínio da vida, nos quais tudo deve ir unido a um critério, convicção e noção amplíssimas da realidade.

            Quanto à espiritualidade, também, resulta convertida em uma divindade erigida sobre um altar de irrealidades; quando não, o produto de mera fantasia. É o jogo de emoções indisciplinadas, de suposições errôneas e presunções exageradas. Isto, infelizmente, ocorre na maioria das vezes.

            E resulta coisa fartamente difícil de enunciar, de forma mais precisa e definitiva, o que é a espiritualidade, diante das mentes entregues a crenças fáceis, dogmáticas e intransigentes. Mas a maior prova do infundado da maioria das noções com respeito à espiritualidade e ao espírito, é a sua falta de resistência à análise investigadora. Até hoje se tem acreditado que o espirito é algo divino, mas em transe de perfeição, o que resulta assinaladamente absurdo, porque, a ser assim, Deus não seria mais do que matéria vulgar em vias de evolução.

            Demasiado ameúde se tem confundido a espiritualidade com a irresponsabilidade moral, ou com diversas modalidades mórbidas da natureza humana, e se a tem sujeitado a toda sorte de erráticos conceitos no que toca aos convencionalismos chamados moral, civilização, religião e sabedoria, e, por último, em torno ao vazio gritante do bem e do mal, problema que já deveria considerar esgotado por insubstancial!

            A espiritualidade exige algo mais do que devoção e de uma mera atitude mental. As crenças olham de soslaio, de maneira caprichosa e desconcertante a parte mais signicativa do ser, e não alcançam em compreender sua importância e transcendência como posse, vibração e consciência, homônimas em si e por si mesmas. A espiritualidade, há que dizê-lo com suma ênfase, implica antes de tudo em posição mental, ou situação conscientiva, de Consciência, no concerto da vida. Se é que se tem conseguido alcançá-la em quilates de Consciência.

 Mas a Consciência não é mera crençaCrenlC