O DISCÍPULO ANTE A INICIAÇÃO

Traduzido do Livro “DISCÍPULOS E MESTRES, ou Os Fatores e Benefícios da Iniciação Espiritual. Original em espanhol. Obra de meditação para as almas sinceras, que peregrinam em busca da Verdade e estão dispostas para a autossuperação. Por OM. CHERENZI LIND. O Tibetano.

A obra iniciática que o Mestre opera ou dirige, com respeito ao Discípulo, é de Consciência, e nem sempre pela via oral ou escrita.

A relação é, antes, espiritual, e a tarefa do Mestre consiste em despertar a Consciência do Discípulo e em enaltecê-lo espiritualmente. Isto é algo que nunca pode conseguir-se objetivamente. Daí, que o Mestre jamais imponha provas (testes) ao Discípulo, senão de maneira subjetiva e transcendental, fora de toda a ponderação. É corrente que o Mestre conduza seus Discípulos a fazerem esforços indispensáveis e lhes dê tarefas ou comissões. Isto é toda a Iniciação...

Mas, como fim primordial, a Iniciação tem por objeto a superação consciente, integral do ser, o que implica numa transformação total, estrutural e funcional e, consequentemente, da personalidade. O Discípulo, portanto, há de submeter-se a uma pedagogia rigorosa e completa, que exige atuação constante e, de fato, severa, do Mestre.

Nenhum verdadeiro Discípulo deve incomodar-se, porque o Mestre insista com ele para determinadas atuações, destinadas a promoverem nele próprio mudanças de atitude ou a formação de um caráter régio e consistente. Num plano semelhante, não entram as pequenezas nem a pusilanimidade, e, pelo contrário, seu fundamento é, precisamente, o desenvolvimento de uma vontade poderosa e o acendramento progressivo da individualidade, desde o ponto de vista transcendental do ser.

Há que ter presente que o Mestre não busca Discípulos, e são estes os que o buscam. É lógico que eles saibam com que fim o desejam, e estejam dispostos a seguir a disciplina consequente. Mas, é de toda a segurança, que o Mestre não chegará senão quando o Discípulo esteja preparado. Portanto, impõe-se uma séria consideração da questão, e não se entregar à Vida Superativa ou Espiritual sem um completo exame de Consciência e sem a decisão irrevogável de seguir a Pegada transcendental, pois o Discípulo, uma vez recebido, nunca perde a sua qualidade como tal. E isto, embora se desespere e renegue, pois os laços entre Discípulo e Mestre são verdadeiramente indissolúveis, como já o dissemos.

O Mestre procede geralmente com severidade, porém isto depende do afinco do discípulo, pois se este está ansioso de superação, não se apartará da verdadeira senda e se empenhará em viver de acordo com as indicações que o Mestre lhe esteve dando desde antes de recebê-lo. Enquanto seja fiel à sua promessa e leal aos Princípios que lhe inspiraram o Matrimônio Místico, quero dizer sua espontânea petição e sua inesquecível recepção como discípulo do Mestre, tudo andará sem dificuldades e seus próprios progressos lhe proporcionarão motivos de exaltação e dita incomparável. Mas se falha, isto é, se deixa que, em qualquer momento, a vaidade, determinados prejulgamentos ou alguma paixão indomada triunfe sobre seus melhores desejos e desígnios, então o Mestre se vê forçado a agir com severidade, se bem que com inalterável serenidade e nunca com ameaças ou infundindo temores.

O discípulo, que trabalha a conscientemente, compromete-se com uma grande tarefa, porque a Iniciação esotérica implica nada menos do que numa Aristocracia moral e da inteligência, e em uma Nobreza do espírito que é preciso desenvolver no ser inteiro, evitando falhas e tropeções que as complicações naturais da vida se encarregam sempre de promover. Porém, o discípulo aprende logo a encontrar em suas atuações, sentimentos e pensamentos, a fruição correspondente, e, desta sorte, acha-se em constante transe de superação, fora de que descobre provas e demonstrações de seu progresso, junto com benefícios que o alentam e enaltecem de maneira inefável.

A conduta do discípulo deve ser exemplar, e sobretudo deverá submeter sua mente a normas de estrita depuração moral e de higiene intelectual, albergando ou cultivando nela unicamente pensamentos edificantes. Tenha, pois, bem presente o discípulo, que toda ideia não controlada é prejudicial e todo pensamento displicente ou negativo é indigno e destrutivo. Todo propósito indecoroso ou deprimente, toda crítica doentia ou degradante, toda forma de atenção sobre o indigno, perverso ou falso deve evitar-se, com o fim de que a atitude mental se retifique, fortaleça e enalteça. Tampouco se deve proferir oralmente ou por escrito propósitos de tal natureza, pois seria dar-lhes continuidade e maior força.

É obrigação do discípulo velar persistentemente pelo melhoramento de seu ser e de sua vida, mediante o cuidadoso cultivo das melhores condições possíveis, que de per si promoverão consequências resplendentes e inspirações de dita, paz e perfeição.

Pensar mal do próximo é suspicácia, baixeza ou morbidez. Ninguém tem o direito de fazê-lo, pois quem julga mal pode igualmente ser mal julgado, além de que julgar sem motivos ou por simples aparências é torpe ou vulgar. Pensar indecorosa ou malignamente de outros, é evidência de que vemos nos demais nossas próprias imperfeições.

De toda maneira, pensar implica numa função, e toda função é criadora: cuidemos nossos pensamentos, pois, se não queremos ser vítimas imediatas deles. Quanto à expressão exterior de nossos pensamentos, procuremos que seja sempre edificante e formosa, pois a beleza é o traje próprio do bem e do verdadeiro. Procuremos que nossa linguagem seja seleta e nossos modos distinguidos, assim como nossas sugestões de simpatia inconfundível.

A verdade é sempre bela, boa e justa, além de dignificante; e a verdadeira espiritualidade é, por assim dizê-lo, a haste de tão divinal flor universal e eterna.

É imperativo que cada ser humano, especialmente o discípulo, se esforce, pois de outro modo não poderia exercitar suas forças nem despertar em si mesmo faculdades ou desenvolver qualidades. Daí os encargos ou tarefas que o Mestre atribui, não como provas, mas como meio de utilizar as energias do discípulo e para o conseguinte enaltecimento interno. Os Mestres, consequentemente, não são tiranos que se impõem nem amos que manejam seus escravos. Pelo contrário, seu objetivo primordial e seu propósito ulterior é libertar escravos, fortalecer os vencidos, enaltecer aos humilhados pela vida e aperfeiçoar aos indivíduos em todas as suas condições íntimas.

Os esforços de que falamos são de caráter disciplinar, ou melhor dito, estão destinados a estabelecer a ordem no íntimo do ser. A disciplina interna é a fonte de todas as grandezas alcançáveis ou alcançadas. Daí que o discípulo disponha sempre de sua própria Consciência para agir; e, por outro lado, os Mestres atuam de tal modo sobre seus discípulos que lhes despertam a Consciência.

O discípulo pode agir como queira: é livre, mais livre do que nunca, porque a Iniciação é uma intensa e contínua obra de liberação do ser dos vícios e encadeamentos da vida, ao mesmo tempo em que liberação sublimadora da Consciência de suas próprias ofuscações, limitações e embotamentos.

A ação do Mestre verifica-se, antes, sobre a natureza íntima do discípulo. Daí que no externo, corporal ou mundano, o Mestre não tenha intervenção, ou não se meta na vida alheia.

O discípulo é completamente livre para atuar como queira no que tange ao material, mundano, social ou econômico, se bem que seu dever moral é de seguir as normas que lhe fixam seus Iniciadores, os quais têm como tarefa, precisamente, a de guiá-lo em seus esforços de aperfeiçoamento superativo e de enaltecimento de si mesmo.

Geralmente, o discípulo se vê coibido frente aos preconceitos sociais e aos fanatismos circundantes; isso lhe faz, comumente, evitar toda manifestação externa de suas íntimas generosidades e excelências, preferindo não mencionar sequer o mais transcendental e belo que se refere a seu Mestre. E talvez é melhor que seja assim, pois, devido a que a função do Mestre se verifica em Planos Superiores, é o mais incompreensível dos seres, e então, mais vale que o vulgo não se confunda com tais coisas transcendentais, que não pode senão desprezar, condenar e perseguir, porque se opõem a seus preconceitos, vaidades, superstição e fanatismos.

A atuação do Mestre é sempre notável, embora externamente assim não o pareça. Um simples pensamento seu basta geralmente para que se operem mudanças transcendentais na vida dos discípulos ou ao redor de si mesmo. É que o Mestre atua sobre os Princípios, enquanto o homem comum trata somente com os efeitos... Característica muito notável, a este respeito, é que o Mestre aproveita de maneira extraordinária as mais críticas e arrevesadas oportunidades para agir generosamente, obtendo resultados assombrosos ao transmutar o mau no bom.

É fácil conhecer um Mestre por seu caráter viril e dinâmico, criador e genial. Sempre se lhe ouvirá afirmar que quem não seja capaz de transmutar em ouro puro qualquer vil metal, não merece ser chamado Mestre nem Sábio. O mesmo, reflete perfeitamente sua divina psicologia no seguinte lema: “Às vezes, posso perder batalhas, porém ganho sempre as minhas campanhas”. O mesmo é o que profere, à maneira de escudo espiritual, o apotegma seguinte: “Não existe nada mais forte, mais belo, mais úitl nem mais necessário do que a Verdade”.

Os Mestres de Sabedoria - que são em número total quatro, embora existam de menor categoria dirigidos pelos mesmos - são os verdadeiros Mentores do mundo e Diretores da evolução humana. Deve-se considerá-los como Gênios Reitores do Universo. Porém quando se olha à humanidade em seu aspecto pior, como é o de suas guerras, vícios e torpezas, resulta difícil assinar tais fatos à vontade dos Mestres, e então sua atuação pode parecer irrisória ou inefetiva. Mas, como já o dissemos, eles não podem ir contra a consciência nem contra a vontade de ninguém. Por outra parte, sua atuação depende inteiramente da cooperação que recebem de seus discípulos, ao extremo de que o grau de sinceridade destes determina a eficácia uma vez que a intensidade da obra dos Mestres.

O discípulo, deste modo, pode converter-se no mais eficaz colaborador do Mestre, e daí que, por direito próprio, integre a Grande Fraternidade Universal Branca.

O Mestre dá ensinamentos claros, compreensíveis, luminosos, sempre ao alcance de seus discípulos.   O ocultismo de livraria ou charlatão que se exibe nas lojas artificialmente simbolizadas, não conduz senão à loucura, à degradação moral ou a alterações prejudiciais do potencial biogenésico. Fica de manifesto a conveniência de escolher o Mestre, e recorrer ao Mestre de Sabedoria que são os regentes dos Santuários Esotéricos e diretores da grande Fraternidade Universal Branca, e não aos pseudos mestres que surgem como setas e cujo único patrimônio é sua imaginação doentia e desconcertante megalomania.

A relação do amante da verdade ou aspirante a Discípulo, que cai no falso ocultismo ou em mãos de pseudo mestres, origina superstição inconfundível, e seus estudos e atividades redundam, invariavelmente, num fanatismo monstruoso. Pelo contrário, o Discípulo autêntico de um Mestre de Sabedoria é sempre sereno, dá provas de tolerância incomensurável e de dignidade humana, e suporta com inusitada confiança, em si mesmo, as vicissitudes da vida; porém, junto com algozar de saúde incomparável, sente profundamente a felicidade inefável de vibrar em uníssono com o Infinito. Nestes dois extremos se vê, pois, de que lado está a validade dos ensinamentos.